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por O GLOBO – 02/12/2014 15:21

O Cirque du Soleil está se reinventando. Depois de, em 2012, registrar seu primeiro ano sem lucro, foi preciso rever estratégias e cortar custos para seguir na estrada. O caminho, segundo reportagem do “Wall Street Journal” que cita dirigentes da companhia e analistas, é preciso se dedicar menos ao circo e mais a outras atividades.

Cena do espetáculo Corteo do Cirque du Soleil: reivenção da empresa para sobreviver – Divulgação

Durante 30 anos, o negócio — que surgiu de shows das ruas de Montreal na décadas de 1908 — floreceu com seus acrobatas e artistas em performances espetaculares. O sucesso foi tamanho que virou alvo de estudo de escolas de administração. Mas a redução na lucratividade e as críticas ruins a shows recentes, ressalta o “WSJ”, fez com que o negócio passasse a ser mais alvo de atenção do que os espetáculos em si. Some-se à maré de dificuldades, a primeira morte no picadeiro, durante uma performance no show Ka em Las Vegas em 2013.

Todos esses problemas, afirmou o diretor-presidente da companhia ao “WSJ”, “deram muita humildade à organização”. E assim, afirmou, em entrevista ao “WSJ”, o fundador e dono de 90% do Cirque du Soleil, Guy Laliberté, a empresa busca se posicionar de forma cada vez mais atrativa. Afinal, em 2008, o Cirque du Soleil foi avaliado em US$ 2,7 bilhões. Cinco anos depois, valia 20% a menos, US$ 2,2 bilhões.

Ainda segundo o “WSJ”, no auge do sucesso, em agosto de 2008, Laliberté vendeu 20% da empresa a um fundo do governo de Dubai por US$ 545 milhões, embolsando cerca de US$ 275 milhões. Cinco anos depois, ele recomprou parte do que havia vendido. Mas a empresa já havia perdido 20%.

O Cirque du Soleil reinventou o tradicional circo norte-americanom, criando espetáculos teatrais com influências chinesas e russas, destaca o “WSJ”. Suas receitas dispararam, especialmente depois de um acordo com um cassino de Las Vegas. No fim de 2011, tinha 22 shows, sete deles em Las Vegas.

De 1984 a 2006, a empresa lançou 20 shows. Todos longevos e bem-sucedidos. Nos seis anos seguintes, porém, dos 14 shows lançados, cinco foram suspensos ou encerrados prematuramente, seja por falta de lucratividade ou por não ter apelo à audiência local. Também houve fracassos de crítica, como o “Viva Elvis”, que foram rapidamente encerrados, lembra o “WSJ”.

— Shows assim enfraquecem a marca — disse ao “WSJ” Patrick Leroux, professor da Concordia University, em Montreal, que estudou o Cirque du Soleil como negócio.

No fim de 2011, a consultoria Bain & Co., contratada pelo Cirque du Soleil, avaliou que houve uma saturação do mercado e que a empresa deveria analisar com cuidado antes de lançar nos espetáculos. E sugeriu que a companhia buscasse crescimento por meio de novos produtos, como filmes, por exemplo.
Cena do espetáculo “Viva Elvis”, do Cirque du Soleil, em Las Vegas: fracasso de crítica – Julie Aucoin/Divulgação

— Guy (Laliberté) sempre disse que éramos uma raridade. Mas a raridade se foi — afirmou ao “WSJ” Marc Gagnon, ex-executivo-chefe do Cirque de Soleil, que deixou a empresa em 2012.

Em agosto daquele ano, preocupado, Laliberté liderou uma convenção de cinco dias com seus executivos em Montreal. Lá, traçaram planos para dispensar centenas de trabalhadores, de artistas a executivos, e diminuir o número de shows. Os cortes começaram em 2013 e já garantiram uma economia de cerca de US$ 100 milhões, de acordo com o “WSJ”.

— Eu disse: por que precisamos de seis contorcionistas? — indagou Laliberté.

Nesse processo de reinvenção, o Cirque du Soleil pretende reduzir sua dependência da atividade circense e ampliar os ganhos provenientes de outras origens, segundo o “WSJ”. De acordo com o executivo-chefe da empresa, Daniel Lamarre, em dez anos, a empresa pretende reduzir de 85% para 60% a receita vindo do circo.

Um dos problemas de se concentrar na atividade circense, explicam os executivos, é que o público não compreende as diferenças entre os diferentes shows sob a marca Cirque dul Soleil. Por isso, muitos optam por não assistir a um espetáculo, acreditando que já o viram embora sejam shows completamente diferentes um do outro.

A equipe executiva de Laliberté também apresentou um plano de reestruturação de negócios, que incluiu a criação de subsidiárias para tentar reforçar o lado não circense da operação. As novas subsidiárias do Cirque du Soleil incluem um braço de produção músico-teatral baseado em Nova York e uma produtora de eventos especiais chamada 45Degrees Events. E os executivos afirmam ao “WSJ” que a área de maior crescimento da empresa é não é a de shows, mas a de fornecimento de serviços de ingressos.

Mas todas essas mudanças, alertaram analistas ao “WSJ”, têm de ser feitas sem mudar a marca central da empresa e sua criatividade.

O resultado parece ser positivo. Apesar de as receitas terem caído de US$ 1 bilhão em 2012 para US$ 850 milhões em 2013, a empresa chegou a registrar um lucro líquido graças ao controle de gastos. Já a receita da unidade de eventos especiais saltou de US$ 15 milhões para US$ 37 milhões.

Laliberté quer mais e aposta alto. Ele disse ao “WSJ” que pretende vender de 20% a 30% de sua fatia no Cirque du Soleil para investidores. Se não funcionar, fará uma oferta pública de ações. Ele espera que o investimento varie de US$ 1,5 bilhão a US$ 2,5 bilhões

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