Sopa de pedra e farofa de carvão. Em São Paulo, esse é o cardápio servido durante a exibição de um filme que faz parte de um festival diferente de cinema.
Se você pensa que comida de cinema é só pipoca, seja bem-vindo ao lugar que vai mudar seus conceitos “gastronômicocinematográficos”. Uma sala de cinema com jeitão de sala de jantar, onde tão importante quanto o filme é uma bandeija que você coloca sobre as pernas.
“Vai ser um jantar das cavernas”, diz o aposentado Estevan da Silva, antes de começar a sessão do filme “A Caverna dos Sonhos Esquecidos”, do diretor Werner Herzog.
Na tela, passava um documentário sobre a arte feita na Idade da Pedra dentro de cavernas francesas. No colo de quem assiste passa um prato atrás do outro com ingredientes que tem tudo a ver. Se o filme é na caverna, a sopa é de pedra. E por aí vai.
“Na verdade, foi uma brincadeira. É lógico que a gente não fez com a própria pedra, mas fizemos com caldo de carne e o filme fala dos estalactites e dos estalagmites. A caverna tinha bastante carvão, ambientes mais queimados, até pelo fogo e me veio a ideia. Então, vou fazer um pão preto e aí uma farofinha desse pão preto como se fosse um crouton, mas em farofa. Ficou idêntico à cinza de carvão. Então, foi uma delícia”, explica a chef de cozinha Alessandra Divani.
Uma hora e meia de filme e 24 garçons vestidos super no clima, ligeiros. Muda o clima da cena, muda o prato. Ao todo, são cinco, e quem serve não pode atrapalhar quem está descobrindo esse novo jeito de comer e de assistir a um filme.
Canudinhos fluorescentes são também para identificar na escuridão onde está o prato e a garrafa de água. Compartilhando os sons da tela com o tilintar dos talheres, todo mundo vira lanterninha do próprio assento.
“É muito legal porque a cada hora é uma surpresa. Aí a gente tenta ficar, tenta conectar o que a gente está comendo com o filme! E aí fica mais emocionante o filme porque a passagem dos garçons não atrapalha em nada. A gente fica até ansioso. O que vem agora? Uma experiência inesquecível”, conta a jornalista Thais de Queiróz.
E para tudo funcionar do jeito certo lá embaixo, em cima, claro, é uma baita correria. Afinal de contas, é como se fosse eles estivessem servindo um restaurante lotado com 160 pessoas. Mas é uma loucura um tanto quanto diferente porque, como a cozinha está dentro da sala de cinema, todo mundo que faz os pratos tem que trabalhar meio que cochichando.
“Isso é uma super dificuldade porque o cozinheiro está acostumado a gritar, né? Eu sou uma que grita muito na cozinha. Então, a gente tem que se controlar muito”, confessa a chef Alessandra Divani.
Mas o esforço vale a pena…para o desespero do pipoqueiro da calçada, que perde boa parte da clientela que sai do cinema. “Fica meio devagar. Para vender pipoca, está devagar, está ruim”, lamenta o pipoqueiro Diolindo Macedo.
Edição do dia 15/10/2014